sexta-feira, 12 de julho de 2013

EXPULSOS POR USINAS DO MADEIRA TENTAM TOCAR A VIDA EM TERRA ESTRANHA

"AQUI TUDO É DIFERENTE..."

A vida por onde chegam e ficam os grandes projetos, os graves problemas sociais, culturais e econômicos também.
Nas barrancas do rio Madeira não tem sido diferente desde que se iniciaram as obras das usinas hidrelétricas de Santo Antonio e Jirau, à partir de 2008.
Milhares de famílias foram deslocadas de suas casas. Os dados das empresas davam informação de que cerca de 3 mil famílias seriam atingidas, mas como em toda grande obra os números não conferem, são sonegados para minimizar custos sociais e garantir a tal da viabilidade financeira do empreendimento. Mas a realidade é outra. Atualmente estima-se que que mais de 20 mil famílias foram afetadas diretamente pelas duas obras. Isso pode ser conferido quando se coloca nos cálculos os bairros de Jaci-Paraná que foram remanejados, bem como o núcleo urbano de Mutum Paraná e o bairro Triângulo em Porto Velho, sem contar os garimpeiros familiares que passam de duas mil famílias.
Nesse rastro de destruição de mundos, foi alagada partes do projeto de Assentamento Joana D´Arc no município de Porto Velho, onde centenas de famílias perderam seu processo produtivo. Muitas destas famílias receberam a indenização e foram tocar suas vidas, outras inda foram para o reassentamento Santa Rita.

 O senhor Valdivino, ex-morador da Linha 19 do Joana D´Arc mostra abaixo sua produção de macaxeira e afirma: "viemos pra cá com a promessa de que os 10 hectares estariam prontos com correção de solo e arado, mas quando chegamos foi tudo ao contrário, tivemos que preparar a terra, brigamos até chegar o calcário que cada um teve que espalhar na terra preparada... Aqui era fazenda de criação de gado, então a terra está muito pisada o que dificulta o crescimento da raíz, ficando pequena... Lá no Joana D´Arc com um ano e meio a macaxeira dava quase um metro de comprimento e grossona, mas aqui olhem como está esmilinguida a produção...". Sua maior preocupação consiste na área da reserva legal a ser doada ao povo como compensao...
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                        

 Já o senhor Antônio, 82 anos de vida, mineiro, conta os desafios que vivia lá na Linha 23 do Joana e os desafios da nova moradia, onde mora sozinho porque mulher trabalho no serviço de saúde em Porto Velho. Fala que sofre de pressão alta e o calorão nestas casas deixa a situação em risco e ele não vê a hora de vender pra ir pra cidade.


Toda estrutura das casas é em concreto armado, em blocos, e como podem ver é finíssima...

À distância a casa é muito bem feita, mas não pode pregar nenhum prego~afirma senhor Antonio.

Na cena abaixo vejam como funciona a criatividade na superação do problema, onde o ar condicionado é acomodado numa janela já que não é permitido quebrar a parede para tal funciona, logo quem tem dinheiro pra comprar uma central de ar condicionado..."a gente dá um jeito né!". 

As rachaduras são visíveis nos cantos da construções. Isso se dá devido a mesma ter uma estrutura de placas e não ocorrendo amarramento das placas e paredes, provocando estas falhas no projeto arquitetônico, comprometendo a infraestrutura, conforme fotos abiaxo.





Já em Teotônio é possível perceber várias casas com placas de Vende-se...

Na área da praia de Teotônio a proibição de banho devido situação da água contaminada inicialmente. "Quem vai até lá passear com a estrada em péssimas condições e sem poder tomar banho ou pescar no rio..." afirma Pedro da associação da vila de situação do mesmo.


Antes das usinas a vida era de fartura em Teotônio, a vila dos Pescadores...


Ai chegou o desenvolvimento e matou a floresta, organizou cemitérios de madeira para produzir gases nocivos à fauna aquática e transformou tudo em morte...


Até Tucunaré que é resistente a águas contaminadas morreram. Mas no rio Madeira é assim, por desconhecimento da vegetação e por omissão dos órgãos de fiscalização a morte ganhou vida e saiu destruindo tudo pela frente... e o pior, continua a destruir...

Até pesquisas revelam que a mortandade de peixes, associada ao desmantelamento da categoria de pescadores tem levado à diminuição da produção de peixes, que por conseguinte não chegam à mesa do povo, antes acostumado a pagar pouco por peixe nativo devido a abundância e que agora pago caro por peixes de cativeiros cheios de hormônios...
Eis o grande desafio.
Como exigir indenizações pelas perdas sociais, culturais, econômicas e ambientais sofridas na região;
Como em nome de um tal desenvolvimento, milhares de familias não podem mais ter acesso ao peixe sadio do rio Madeira;
Como será garantido a reserva legal de cada propriedade nos reassentamentos, se as empresas não conseguem terras florestadas próximas com documentos legais;
Como as famílias serão responsáveis pelas reservas legais se estas forem compradas longe de suas moradias;
 
No mais, deve-se seguir em luta pelo reconhecimento da categoria de atingidos e na garantia dos direitos negados...
 
Iremar Antonio Ferreira
12 de julho de 2013

Um comentário:

Guilherme Carvalho disse...

Iremar, fiquei muito triste pelo que está acontecendo em Rondônia. Sabíamos que tudo isso seria inevitável por conta do descompromisso governamental e das empresas privadas. Contudo, a o real é ainda mais chocante.